Concerto de Ano Novo – Orquestra das Beiras

11.Jan.09 – 18h00
Teatro Cine de Torres Vedras


Ana Quintans e Nuno Côrte-Real, num ensaio com a Orquestra das Beiras.
Teatro Cine de Torres Vedras, 11.Jan.09


programa:

N. Côrte-Real
Rock – Homenagem a Ligeti, op. 24

P. Tchaikovsky
Variações Rococó, op. 33, para violoncelo e orquestra

pausa


R. Wagner
Idílio de Siegfried

Árias de W. A. Mozart
Venite inginocchiatevi
(Le nozze di Figaro)
Una donna a quindici anni
(Cosi fan tutte)
Ach, ich fühls
(Die Zauberflöte)
Vedrai Carino
(Don Giovanni)

Ana Quintans – soprano

Filipe Quaresma – violoncelo
Nuno Côrte-Real – direcção musical
Orquestra das Beiras

notas ao programa:

Nuno Corte-Real (1971-) é um dos compositores da nova geração que melhor encarna o espírito de independência face a poéticas fundamentalistas e académicas, buscando, através de uma abertura a vários materiais musicais, um estilo em que a dimensão comunicativa está sempre presente. Assim, a escolha do material musical não é feita a priori mas de acordo com o tipo e qualidade de expressividade que o compositor procura. E neste sentido, a música do passado, a grande tradição, é encarada não como algo a superar mas como uma incessante fonte de inspiração.
Rock – homenagem a Ligeti, Op.24, composto em 2003, não é propriamente uma peça no estilo de Ligeti, apesar de conter alguns gestos herdados do compositor. É antes, uma celebração festiva desse compositor que foi na segunda metade do século XX um notável exemplo de independência face ao sistema. Não isento de alguma ironia, o nome da peça contrasta pela sua ligeireza com os títulos graves e pretensiosos habitualmente atribuídos às peças contemporâneas.

P.I.Tchaikovsky (1840-1893) foi um compositor largamente marginalizado pela tradição, considerado superficial devido ao excesso de sentimentalismo que põe nas obras. Mas este aspecto, que, aliás, lhe valeu a alcunha de “choramingão”, é muitas vezes contradito pela inegável fertilidade de invenção, que nada tem de superficial, possuindo antes uma espontaneidade e uma elegância natural. Numa Rússia empenhada numa música nacional Tchaikovsky logrou operar a síntese entre o ocidente, caracterizado pelo sinfonismo centro-europeu, e o oriente, com as qualidades colorísticas de timbre, melodia e harmonia típicas da música tradicional russa.
As Variações sobre um tema rococó, para violoncelo e orquestra, Op.33, foram estreadas em Moscovo no ano de 1877 pelo violoncelista Fitzenhagen, que, posteriormente, viria a proceder a algumas alterações na peça, sobretudo na ordenação das diferentes variações, ao que parece, com o consentimento do compositor. A obra reflecte a afeição de Tchaikovsky pelo estilo galante de meados do século XVIII, na qual se pressente uma homenagem velada a Mozart. Ao tema, perfeitamente clássico, duma simplicidade graciosa e cantante, seguem-se sete variações em que a exibição virtuosística alterna com páginas de verdadeira inspiração.

Richard Wagner (1813-1883) foi provavelmente a figura artística mais influente do século XIX, estendendo-se essa influência muito para além da música. As suas ideias progressistas e o seu pensamento musical determinaram directa ou indirectamente o rumo de toda a música posterior. O seu espírito visionário megalómano ambicionou uma concepção da ópera como obra de arte total, isto é, a síntese de palavra-música-acção numa total unidade orgânica, a qual teria uma missão redentora da humanidade.
A sua ideia de drama musical encontrou a sua forma mais acabada na monumental tetralogia O
Anel do Nibelungo, para cuja apresentação Wagner idealizou e concretizou a construção dum teatro em Bayreuth que se tornaria no santuário para o culto da sua música.
Wagner foi quase exclusivamente um compositor de ópera. Entre os raros exemplos de música instrumental o
Idílio de Siegfried constitui o mais notável. Escrita originalmente para treze instrumentos solistas, a peça foi concebida com o singular propósito de servir de presente de aniversário e de natal para a mulher de Wagner, Cosima Liszt, filha do compositor Franz Liszt, para a qual foi tocada na manhã de 25 de Dezembro de 1870 à maneira de uma serenata. Ao filho desse casamento deram o nome de Siegfried, o principal herói do Anel. A obra representa um eco do drama musical Siegfried, do qual Wagner tira vários motivos para compor esta partitura luminosa, serena e feliz.

W.A.Mozart (1756-1791) não foi propriamente um inovador. O seu grande feito foi ter conseguido operar uma unidade entre a multiplicidade de estilos que, após a dissolução do barroco, predominavam por toda a Europa. Soube captar o essencial de tendências como o estilo galante, o empfindsamer (estilo sentimental), o Sturm und Drang, o stile osservato, o estilo heróico, etc., sintetizando-os num único estilo pleno de profundidade, contraste, e dinamismo psicológico e dramático. Um estilo no qual a capacidade expressiva e elegância formal aparecem equilibrados. Da vida de Mozart são importantes dois acontecimentos: as viagens que fez por toda a Europa durante a infância e juventude, que lhe deram um vasto conhecimento de todas as práticas musicais, das quais soube tirar o melhor para si; e a «fuga» de Salzburgo para Viena, em 1781, onde sob uma nova condição profissional independente o seu estilo amadurece. Os dez anos de Viena, apesar de complicadas atribulações, em que os êxitos competem com os fracassos, são notavelmente produtivos. São desse período as principais óperas, entre as quais As Bodas de Fígaro, D.Giovanni, Cosi fan tutte ou A Flauta Mágica. Apesar de corresponderem a géneros diferentes, estas obras possuem um estilo internacional que, sob o signo de ecletismo, toma emprestado o mais importante de todas as tradições dramáticas europeias, às quais Mozart confere uma nova unidade, elevando os diferentes géneros o um alto grau de seriedade, graças à qualidade dos libretos e à finura da caracterização psicológica e musical dos personagens.
Afonso Miranda


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